Posso dizer que minha decisão de ser físico começou nas aulas de filosofia que tive no André Maurois. Estudei um livro chamado “Curso de Filosofia” e concluí que tudo que estava escrito nele fazia sentido, tudo na minha vida a partir daquele momento fazia sentido! Por isso vou colocar trechos do primeiro capítulo do livro, o qual aborda o significado da filosofia e para que ela serve. Talvez a sua vida passe também a fazer sentido.
“A filosofia nasceu como física, e os primeiros filósofos foram, acertadamente, também chamados de físicos.”
“A filosofia, pois, começa quando algo desperta a nossa admiração, espanta-nos, capta nossa atenção (Que é isso? Por que é assim? Como é possível que seja assim?), interroga-nos insistentemente, exige uma explicação.”
“Sendo a maioria das pessoas pouco exigente, as explicações dadas pelo mito, ou quaisquer outras explicações prontas de uma cultura, bastam para quebrar o espanto nascente, e, assim sendo, a filosofia não acontece.”
“... um ser humano pode crescer, assimilando com naturalidade as explicações dadas pela sua cultura sobre o mundo que o circunda, quer se trate do mundo físico, quer do social. As regras de conduta, o sistema de organização social, muitas vezes, não chegam a espantar ninguém. As pessoas crescem aceitando sem discutir os papéis sociais que lhes são atribuídos, sem jamais questionar seu valor e seu porquê, como se tudo fosse parte da ordem natural e inevitável das coisas. Ora, a filosofia grega parece ter surgido quando, por uma série de fatores complexos, que não podemos aqui desenvolver, as respostas dadas pelo mito a certas questões não satisfizeram mais a certas mentes particularmente exigentes de um povo particularmente curioso e passível de se espantar. As questões continuaram assim, com sua força de questão e de espanto, a exigir uma resposta que fosse além das convencionais.”
“A explicação pelo mito, ou pela tradição, tem a força do sagrado. Quando o mito fala, é como se Deus falasse – e com Deus não se discute. Mas quando, numa sociedade laicizada como foi a grega do séc. VI a.C., onde não só o mito já está desacreditado, mas onde se pode dar ao luxo de não levar o mito a sério, os sábios começam a dar explicações filosóficas sobre fenômenos naturais, estas não têm de modo algum a força do sagrado. A explicação filosófica é apenas a explicação de um homem. E, sem o endosso divino, ela não pode impor-se sem uma prova.”
“Filosofia é ‘saber de todas as coisas’ e é saber crítico. Nem ela própria pode escapar ao seu questionamento e à sua crítica.”
“Ora, numa sociedade em que as explicações estão todas prontas, onde as normas são aceitas sem discussão, a tendência é estagnar. As alterações, inevitáveis em qualquer comunidade humana, ficam por conta de fatores externos: mudanças climáticas, cataclismas, guerras, invasões... Mas lá onde há questionamento de tudo existe um princípio interno de transformação, e existe a permanente possibilidade da mudança.”
Essas são algumas das idéias que já acreditava antes mesmo de lê-las. Assim que possível escreverei mais idéias sobre filosofia, pois o filho pródigo a casa torna.
sexta-feira, fevereiro 11, 2005
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