sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Trechos de filosofia

Posso dizer que minha decisão de ser físico começou nas aulas de filosofia que tive no André Maurois. Estudei um livro chamado “Curso de Filosofia” e concluí que tudo que estava escrito nele fazia sentido, tudo na minha vida a partir daquele momento fazia sentido! Por isso vou colocar trechos do primeiro capítulo do livro, o qual aborda o significado da filosofia e para que ela serve. Talvez a sua vida passe também a fazer sentido.

“A filosofia nasceu como física, e os primeiros filósofos foram, acertadamente, também chamados de físicos.”

“A filosofia, pois, começa quando algo desperta a nossa admiração, espanta-nos, capta nossa atenção (Que é isso? Por que é assim? Como é possível que seja assim?), interroga-nos insistentemente, exige uma explicação.”

“Sendo a maioria das pessoas pouco exigente, as explicações dadas pelo mito, ou quaisquer outras explicações prontas de uma cultura, bastam para quebrar o espanto nascente, e, assim sendo, a filosofia não acontece.”

“... um ser humano pode crescer, assimilando com naturalidade as explicações dadas pela sua cultura sobre o mundo que o circunda, quer se trate do mundo físico, quer do social. As regras de conduta, o sistema de organização social, muitas vezes, não chegam a espantar ninguém. As pessoas crescem aceitando sem discutir os papéis sociais que lhes são atribuídos, sem jamais questionar seu valor e seu porquê, como se tudo fosse parte da ordem natural e inevitável das coisas. Ora, a filosofia grega parece ter surgido quando, por uma série de fatores complexos, que não podemos aqui desenvolver, as respostas dadas pelo mito a certas questões não satisfizeram mais a certas mentes particularmente exigentes de um povo particularmente curioso e passível de se espantar. As questões continuaram assim, com sua força de questão e de espanto, a exigir uma resposta que fosse além das convencionais.”

“A explicação pelo mito, ou pela tradição, tem a força do sagrado. Quando o mito fala, é como se Deus falasse – e com Deus não se discute. Mas quando, numa sociedade laicizada como foi a grega do séc. VI a.C., onde não só o mito já está desacreditado, mas onde se pode dar ao luxo de não levar o mito a sério, os sábios começam a dar explicações filosóficas sobre fenômenos naturais, estas não têm de modo algum a força do sagrado. A explicação filosófica é apenas a explicação de um homem. E, sem o endosso divino, ela não pode impor-se sem uma prova.”

“Filosofia é ‘saber de todas as coisas’ e é saber crítico. Nem ela própria pode escapar ao seu questionamento e à sua crítica.”

“Ora, numa sociedade em que as explicações estão todas prontas, onde as normas são aceitas sem discussão, a tendência é estagnar. As alterações, inevitáveis em qualquer comunidade humana, ficam por conta de fatores externos: mudanças climáticas, cataclismas, guerras, invasões... Mas lá onde há questionamento de tudo existe um princípio interno de transformação, e existe a permanente possibilidade da mudança.”

Essas são algumas das idéias que já acreditava antes mesmo de lê-las. Assim que possível escreverei mais idéias sobre filosofia, pois o filho pródigo a casa torna.