quinta-feira, janeiro 25, 2007

O jogador de pôquer.

Joguei. Perdi todo o dinheiro que tinha na carteira. Todo ele. Era o momento de sair da mesa, mas algo me prendia àquele lugar, àquela situação desconfortável, mas emocionante. Queria apostar meu relógio suiço, minhas calças até. Queria, mas não aceitaram...quiseram algo mais precioso, a minha vida! Obviamente tive que perguntar:

- E se eu ganhar, o que levarei de vocês?
- Todo o dinheiro da mesa! - respondeu o apostador à minha direita.

Pensei na minha família, pensei mesmo. Tudo que planejei na minha vida estava ali, prestes a ser colocado no lixo, na mesa de pôquer. Cinco minutos e resolvi fazer o que parecia impossível: all in. Todas as fichas no centro da mesa, cartas distribuídas, clima tenso. Deixei as duas cartas uma atrás da outra para não me desesperar, caso tirasse o azar grande. Mas não pareceu funcionar. Olhei entre os dedos e vi que era uma figura, olhei para os apostadores, tomei coragem e vi a carta. Valete...valete de copas. Não gosto de valetes. Quando era pequeno, achava que os valetes eram os cavalheiros do reino, tipo Lancelot. O fato de não possuirem um par como rei e dama me fez acreditar que ele tinha um caso com a dama. Claro que, em português, dama pode ser mulher de qualquer um, mas ela é a rainha, não sabia disso! Aí foi que tomei ódio dos valetes...traição já é demais! Não sei o q o valete representa de fato. Me disseram que o J significa jester, o bobo da corte. Mas bobo da corte usa espada? Odeio valetes!

Bem, foi bom pensar nos valetes porque fiquei menos tenso e ganhei um pouco de garra. Me restava uma carta e como era all in resolvi não olhá-la. Veio o Flop: Valete de ouros, dama de ouros e rei de paus. Nossa...já tinha um par na mão...nossa...fiquei pensando na dama. Queria que ela viesse na minha mão. Não quis olhar a carta, só após o derradeiro river. Turn na mesa, me aparece um rei de ouros. Pensei comigo mesmo: "E agora? Será que é o fim?". Veio o river: Valete!!! Valete no river!!! Um maldito valete de paus no river! Tinha um trio, estava esperançoso, mas ainda faltava olhar a carta que estava comigo desde o começo...Foi aí que me senti iluminado por por Deus: Olhando devagar, aproveitando o que poderiam ser meus últimos dias aqui nesse mundo fui olhando devagarinho até constatar uma das cenas mais lindas de toda a minha vida: A lança azul, brilhante, o naipe preto, o rosto feliz, como se tivesse no paraíso, o "J"...era um valete!!! o de espadas!!! Expus minha quadra de valetes e pulei como uma criança, como um inocente juvenil!!! Meus oponentes, um a um jogando as cartas na mesa...que cena, que cena!!! Logo a figura mais nefasta, contrária a todo tipo de ética, sem valor moral algum...Fui salvo! Comecei a juntar todas aquelas fichas quando notei o que não queria ter notado...um dos apostadores não largou as cartas na mesa. Meu coração bateu forte, minha garganta secou na hora. Ele vira as cartas e aquelas figuras firmes, cheias de autoridade acabam com o meu direito de viver. Dois reis em suas mãos, uma quadra de reis na mesa...Pensei:"Uma traição sempre gera uma vingança". Pensamento final...