segunda-feira, setembro 05, 2005

Medos

Se existem sentimentos que me incomodam e me colocam pra baixo, com certeza absoluta são os meus medos. Mas medo de quê? Basicamente de tudo. Medo da vida, medo de morte, medo do fracasso, medo do sucesso... Medo de tudo.
Sempre insatisfeito, não consigo tirar o melhor do que acontece comigo. Pelo contrário, se estou tão bem, será que o passo seguinte não é a instabilidade? Tipo “tudo que sobe tem que descer”... Quanta insegurança!
Mas, na nossa cidade, no nosso país isso se torna redundante. Todo dia escuto tiroteio e fico maluco, mas não porque acho que vou levar um tiro... Mas que minha família vai levar no meu lugar... É foda. Mas ter medo da violência é um medo consideravelmente “normal”... Quem não tem medo disso? Mas o medo que mais me incomoda é aquele que mais me torna depressivo e que me impede de tomar as decisões mais importantes. É o medo das pessoas.
A minha timidez é basicamente a impossibilidade de fazer aquilo que quero por achar que os outros vão me criticar, se afastar de mim pelo que fiz. Tenho vontade de abraçar as pessoas, conversar com elas, deixar claro o que sinto, mas é complicado. Quando bebo faço tudo isso que gostaria, mas beber é algo de momento, pois, no dia seguinte vou lembrar de tudo o que fiz e geralmente me arrependo e o medo de encarar as pessoas volta com toda a força. Não tem jeito, fico deprimido...
Acho que me encontro num momento tão frágil que nem sei se me expressei direito. Mas é isso...
Todos sabem que me amarro em Camões, o príncipe dos poetas de seu tempo, que viveu pobre e miseravelmente. E assim morreu. E, quando sinto medo, lembro-me sempre dessas duas estrofes (105 e 106 do primeiro canto) do Os Lusíadas:


O recado, que trazem, é de amigos,
Mas debaxo o veneno vem coberto,
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos!
Ó caminho de vida nunca certo,
Que aonde a gente põe sua esperança
Tenha a vida tão pouca segurança!

No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?


Camões é foda! Mais foda que ele só mesmo o Jason Newsted!!!
“...find it so grim, so true, so real.”